Magníficas Salas de Espetáculo
Olá! Está sendo um prazer dividir minhas experiências de arquitetura e acústica pelo mundo com vocês. Nessa edição, mostrarei um pouco das salas de apresentações que conheci pelas minhas andanças. Acho importante introduzir o assunto dizendo que a acústica ajustável permite adequar o ambiente a cada tipologia musical. Duas são as formas de alterar a característica acústica de um espaço: mudando o volume ou alterando a absorção dos revestimentos de parede ou forro. Essa é, sem dúvida, uma área muito dinâmica, com muitas possibiliades estéticas.
No Brasil, a "Sala São Paulo", localizada na Estação Julio Prestes, no bairro da Luz, é um ótimo exemplo de um forro que se movimenta, alterando o volume de acordo com a demanda de cada maestro. Quem mora em São Paulo, não deve perder a oportunidade de conhecer. Quem não está, vale a viagem. É emocionante a beleza do lugar.
Quem se depara com desenvolvimento de projetos acústicos, pode planejar a alteração do volume da sala. Apesar de ser uma solução interessante, requer muitos recursos e uma mecânica bem desenvolvida, além de muito espaço e normalmente sistemas computadorizados de ajuste. Observei que uma alternativa tem sido extremamente explorada em muitas das mais modernas salas de espetáculos do mundo: a alteração da absorção acústica dos materiais. Isso pode ser obtido de diversas formas e já tive a oportunidade de ver soluções extremamente criativas nesse assunto. É possível usar cortinas, painéis móveis onde cada face possui diferentes materiais ou algum elemento embutido no forro da parede.
Estive em Melbourne, na Austrália, em 2010, participando do International Symposium on Room Acoustics (ISRA) e presenciei a diferença na sonoridade que uma cortina embutida no forro pode proporcionar quando é rebaixada.
Com um sistema automatizado, a quantidade de cortinas e o tamanho da mesma pode ser ajustado para que a sala "black box" do mais novo centro cultural da Austrália, o "Melbourne Recital Centre", possa ter seu tempo de reverberação (RT60) alterado. O ambiente é todo constituído (parede e forro) de painéis de base quadrada com diferentes ângulos de inclinações, formando um jogo de cheios e vazios visual e extremamente interessante e com alta capacidade de difusão sonora.
O projeto acústico foi responsabilidade de uma das empresas mais conceituadas do mundo, a "Arup Acoustics". Foram os próprios responsáveis que apresentaram os conceitos acústicos adotados e nem precisa dizer que o espaço é lindo e que por lá circulam pessoas de todo o mundo.
Teatros antigos, que estão passando por reformas, têm incorporado elementos que permitam ajustar os parâmetros acústicos das salas. Essa mudança proporciona versatilidade ao empreendimento. O "State Theatre", em Melbourne, incorporou cortinas pesadas em sua parte posterior, que ficam embutidas em nichos laterais. Quando é necessário uma sala mais "morta", a cortina cobre a parede.
Em Copenhagen, na lindíssima Dinamarca, tive a oportunidade, no ano passado, de visitar a "Concert House Danish Radio Copenhagen", local de espetáculos recém-inaugurado e considerado o mais caro do mundo, cujo projeto foi desenvolvido pelo conceituado arquiteto Jean Nouvel e consultoria acústica projetada pela "NAGATA Acoustics INC” (Yasuhisa Toyota / Motoo Komoda)", cujos diretores tive a grata oportunidade de conhecer.
*Débora Barretto é arquiteta, diretora da Audium – Áudio & Acústica(BA), mestre em Engenharia Ambiental Urbana na área de poluição sonora (UFBA); especialista em acústica nas construções (UPM/Espanha); conselheira da SOBRAC e da ProAcústica.