A perda auditiva cresce no ambiente de trabalho

    Fonoaudióloga, Doutora em Saúde Pública pela FSP-USP, Professora Doutora Adjunto da UNIFESP e Professora Doutora Associada da PUC-SP. Tem experiência na área de Fonoaudiologia, com ênfase em Saúde Coletiva, atuando nas áreas de epidemiologia, saúde ambiental, saúde do trabalhador, prevenção de perdas auditivas relacionadas ao trabalho e diagnóstico audiológico.  Nesta entrevista exclusiva ao Vibranews, Ana Claudia Fiorini analisa a legislação sobre ruído e poluição sonora, as alterações no sistema auditivo e a perda auditiva no ambiente de trabalho.

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    Leia  os principais trechos da entrevista: 

    P – Por conta do crescimento e concentração da população, o ruído e a poluição sonora crescem cada vez mais em metrópoles como São Paulo. Mesmo assim, poucas leis são criadas e aprovadas para combater esse caos. Na sua opinião, este quadro pode se alterar com a entrada de novos vereadores na Câmara Municipal?

    R - Em geral, não acho que o Brasil é um país muito atrasado no que diz respeito à Legislação acerca do ruído e poluição sonora. É claro que sempre precisamos abordar novos aspectos, principalmente em decorrência do progresso e do avanço tecnológico que acabam gerando novas fontes cada vez mais ruidosas. Entretanto, acho que tanto os profissionais das áreas técnicas, quanto a população em geral ainda desconhecem a existência e, consequentemente, o conteúdo das nossas leis. Assim, voltamos ao problema da exigência do cumprimento e da falta de fiscalização que exigem, sim, do Poder Público, ações mais eficientes e eficazes.

    P – Há um ano, a senhora participou do Seminário Ruído e Saúde Pública na Câmara Municipal de São Paulo. De lá para cá, o que foi feito de concreto para combater a poluição sonora e o ruído na cidade?

    R - No primeiro semestre do ano passado, por iniciativa do vereador Juscelino Gadelha, “Ruído e Saúde Pública” foi realizado o Seminário realizado na Câmara Municipal de São Paulo. No segundo semestre, na Assembleia Legislativa o Seminário abordou os impactos sobre as populações do entorno de eixos dos Sistemas de Transportes Lineares do Estado. Entretanto, desconheço os trâmites atuais deste Projeto de Lei, mas realmente espero que saia do papel e tenha impactos positivos para a nossa cidade.

    P – A Pró Acústica está trabalhando para criar uma classificação acústica para os restaurantes da cidade de São Paulo. O que a senhora acha da iniciativa?

    R - Acredito que iniciativas no sentido de mitigar a poluição sonora das cidades será sempre válida e necessária à sociedade. Entretanto, acredito também ser fundamental o planejamento de ações de educação ambiental e educação em saúde para que a população possa compreender e participar ativamente de todo o processo. Espero que a Pro Acústica seja bem sucedida, pois certamente a cidade só tem a ganhar com tal classificação. 

    P - Na sua opinião, de que maneira o ruído e a poluição sonora se tornam mais graves e prejudicam a saúde das pessoas?

    R – O aumento do ruído ambiental pode alterar o comportamento do ser humano afetando negativamente sua motivação, capacidade de aprendizagem e de concentração O ruído também interfere em atividades cotidianas básicas como dormir, descansar, estudar e comunicar-se. Pode causar doenças do coração, problemas de saúde mental e dano auditivo. Desta forma, tanto os profissionais de saúde quanto o poder público devem investir em ações educativas e na informação para que a população possa, ao longo do tempo, se proteger e exigir proteção.

    P – E, no ambiente de trabalho, a perda auditiva é grave?

    A PAIR (perda auditiva induzida por ruído) é uma das doenças de maior prevalência no meio industrial. As pesquisas científicas indicam uma variabilidade na prevalência de 20 a 50% nos diferentes segmentos industriais (metalurgia, têxtil, siderurgia, químicas, petroquímicas, construção civil e outros). Além do ruído, existem outros agentes de risco à audição presentes nos ambientes de trabalho como, por exemplo, determinados produtos químicos (solventes orgânicos, metais e gases asfixiantes), pressão, vibrações, temperaturas elevadas ou rebaixadas e outros. Assim, tal doença crônica torna-se um problema de saúde pública que deve ser controlado por meio de ações de proteção aos indivíduos com o objetivo de prevenção de perdas auditivas e eventuais efeitos na saúde geral. 

    P – Para finalizar, em uma entrevista para a revista Época, a senhora declarou que o ruído é um vício. Pode explicar melhor esta frase?

    R - A exposição a sons pode provocar, dentre outros efeitos, alterações no sistema circulatório e aumentar a produção de neurotransmissores como a adrenalina e noradrenalina. Assim, normalmente causa uma sensação muito prazerosa que pode acabar se tornando um “vício fisiológico”. Tal processo está diretamente associado ao nível sonoro e explica porque as pessoas se viciam em sons cada vez mais elevados. Um bom exemplo é o volume utilizado no uso de estéreos pessoais e até nos rádios dos carros, pois acaba sendo mais prazeroso um determinado nível e é sempre daí para mais. Desta forma, fazer o caminho contrário, ou seja, tentar minimizar a exposição acaba sendo um longo processo a ser percorrido e deve envolver a assessoria de um profissional de saúde.   

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