O crescimento desordenado das cidades, aliado ao grande número de veículos automotores que circulam diariamente nas ruas e nas rodovias, vem causando desconforto acústico aos habitantes das edificações que margeiam estas vias de tráfego. Esta poluição sonora, além de causar desconforto acústico, vem causando problemas de saúde aos habitantes.
A poluição sonora passou a ser um dos desafios ambientais, assim como a poluição do ar e da água. Além dos problemas de saúde, o crescimento da poluição sonora também afeta os ambientes residenciais, sociais e educacionais, com perdas econômicas correspondentes. O excesso de ruído pode provocar doenças prejudiciais à qualidade de vida, como problemas auditivos irreversíveis, distúrbios do labirinto, ansiedade, nervosismo, hipertensão arterial, gastrites e úlceras, entre outros.
Hoje a construção de barreiras acústicas é uma das primeiras soluções pensadas, para mitigar o ruído causado por rodovias sobre uma comunidade, porém antes de construir barreiras acústicas é necessário conhecer o tipo e o nível de ruído que será necessário isolar e determinar qual o impacto que estas barreiras causarão à comunidade.
A barreira acústica é um anteparo que será colocado entre a fonte geradora de ruído, no caso as rodovias, e a comunidade afetada pelo ruído, para que sirva como um isolante acústico, reduzindo a energia do som transmitido através das estruturas para os ambientes vizinhos, como esquematizado abaixo.
Este anteparo deverá ser projetado de forma a isolar o ruído e para isto deverá ter uma geometria e altura adequadas, além de um posicionamento preciso entre a fonte geradora e a área onde se quer mitigar o ruído. Os materiais que comporão a barreira deverão ser criteriosamente estudados, para garantir a isolação sonora mínima necessária da barreira, além da absorção sonora em suas superfícies, o que reduzirá a energia de um som refletido por sua superfície.
Além da determinação do nível de ruído a ser atenuado, o estudo da geometria da barreira e dos materiais que a comporão é fundamental para o sucesso da mitigação do ruído. Na figura abaixo pode-se observar, esquematicamente, a emissão de ruído através de uma barreira.
É importante salientar que o desconforto causado pelo ruído de tráfego, tanto urbano, quanto rodoviário, pode tomar proporções maiores devido ao tipo de pavimento que é utilizado nas vias de tráfego e também por falhas no projeto arquitetônico, com relação ao desempenho acústico, assim como na execução da construção dos edifícios.
Para conseguir soluções adequadas para mitigar o ruído em edificações novas, com relação ao ruído de tráfego, primeiramente deve-se tentar afastar ao máximo a edificação da via de tráfego. Uma vez que as edificações forem construídas próximas às vias de tráfego, o projeto arquitetônico deve dar prioridade para que o posicionamento das aberturas, como janelas e portas, fiquem em fachadas protegidas da incidência direta do som proveniente da rodovia, sem prejudicar a questão de insolação e ventilação e que as fachadas e a cobertura da edificação atendam pelo menos ao desempenho acústico mínimo, definido pela norma NBR 15575:2008.
Com relação às edificações já existentes, são poucas as opções para mitigar o ruído proveniente de rodovias. Pode-se trabalhar na otimização da pavimentação da rodovia ou a construção de barreiras acústicas, podendo ser necessária as duas soluções simultaneamente.
Alguns casos são de difícil solução, como, por exemplo, as edificações que estão em nível superior ao da rodovia, ou em casos de prédios de muitos pavimentos. A ilustração abaixo mostra esquematicamente uma destas situações.
Para a determinação de que tipo de solução acústica deve ser utilizada, visando a mitigação do ruído, deverão ser feitos levantamentos do nível de ruído gerado pela rodovia e qual o impacto desse ruído na área de interesse, isto é, nas posições da comunidade onde existam as moradias.
O solo, as construções, o relevo e a vegetação no entorno das barreiras devem ser levados em conta no projeto, pois estes elementos podem contribuir ou prejudicar a eficiência dos anteparos.
De posse dessas informações, com auxílio de softwares de simulação, que façam o mapeamento do ruído e tenham eficiência comprovada, será avaliada a propagação do ruído levando-se em conta os anteparos naturais, como relevo, vegetação e influência do vento. Dessa forma, será possível determinar em quais trechos da rodovia serão necessárias as implantações de barreiras acústicas, além da definição de sua geometria e matérias que a comporão.
Muitos outros fatores devem ser estudados para a implantação das barreiras acústicas tanto em relação à comunidade a ser protegida como para o usuário das rodovias, garantindo a salubridade dos moradores e a segurança dos motoristas.
Marcelo de Mello Aquilino*
é pesquisador do Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios do CETAC-IPT/USP www.ipt.br